terça-feira, novembro 13, 2007

....confições ....

Dêem-me descanso mentes atordoantes
Deixa-me repor o equilíbrio em mim
Deixai-me respirar, inalar a alegria do pó enfim….
Constante, sem nada de extravagante
Deixem-me agora assim
A repousar, a descansar, somente em mim
Outra e outra vez, descansar por fim

Mata-me a pouco e pouco o cansaço do tempo, do fruto, do cancro….
Morro a cada minuto que passa a cada batimento, a cada respirar
Morro no momento em deixo de escrever, em que paro de pensar
Mina-me uma vontade quase eloquente
Uma queda poética, digna do sol poente
Corrói-me a semente… E a sábia tristeza envolvente
Solto os problemas ao sol, ao vento que os levará
Não sei para onde, mas para longe de mim, será
Retiro o nó da garganta que me asfixia
Mato em mim, a vontade de ser poeta de ser alguém algum dia


Mas de mortes e mortos, infelizmente apenas restam memórias
Apenas isso e algumas centenas de histórias…
A perda foi por infortúnio consumada,
Eles já partiram…cedo foram, ainda de madrugada
Deixaram-nos mais sós, mais pobres, mais tristes e desconsolados
Levaram com eles todo o resto mas não, não… Jamais a saudade
Essa fica e faz-nos de certa forma a vontade
De nos deixar, por vezes também morrer,
E de nesses breves momentos nos deixar perto deles ficar
Tão longe deste mundo tão longe desta realidade, pairar
Em quase sonhos, em quase devaneios…Enlouquecer
Longe fica tudo, excepto o desatino, a loucura
E lá longe fico também….Por um momento, por um alguém
Deliciando a mente e a alma com alguma doçura
Amarga? Amargurada? Triste? Enlouquecida? Vencida?
Não, a tormenta é distante e a doçura….Quase constante.

domingo, outubro 28, 2007

...."Untitled"....

Procuro simplificar as palavras, para não mentir
Para não confundir mais o que pretendo dizer
Com o que não consigo disfarçar de sentir

Pretendo olhar-te outra vez, e entender
Onde está a traição do meu fundamento
Que me fez dizer
Que o mar que observava era amor,
Fonte de alento, alimento, e eu que já me sinto sedento….
Fitava tão imerso, tal calmante
Tão lindo, traiçoeiro, perigoso, surreal e relaxante
Da mesma forma eu via o amor,
Esse sentimento…Essa ferida de ardor

E a pessoa com quem falava era ninfa encantada na verdade
Donzela sem espinhos, que não me quis injectar, veneno tão letal
Esse afecto, forte completo a quem chamam amor…não é banal
É forte veemente, como o mar, em dia de tempestade
Daí a confusão…
A indecisão

Mas como disse não quero voltar a mentir
A verdade é só uma, e está despojada de protecções
Está só, livre de quaisquer contradições
Bastaram duas palavras para chamar outra vez o ser a sentir
Esse bobo triste que aparece sem terem de pedir
Pedindo afectos mil, ou sofrerá, por solidão
Por embaraço, nada de novo, e por paixão

Não o enterro em mim pois não consigo,
Não tenho porte, nem tais intenções…
Não o escondo, nem esconderei,
A ser eu tentarei…
Mesmo que assim fuja, de mim, serei
Bravo se preciso,
Ágil, lesto, conciso
Agitado, carismático
Cru, nu, despido do preconceito
Relaxante e gostoso a preceito
Saboroso, delicioso
Leal, poderoso,
Dominante e quem sabe feroz
Ou nada disto, nem tão pouco se tivermos a sós
Que tou rouco de gritar e os céus já não ouvem minha voz.

Quem dera ser Bocage, ou de forma mais informal A RECEITA

Quem dera ser Bocage


Quem dera conseguir escrever
Um poema que se visse, para toda a gente ler,
Sem truques, ou palavras complicadas
Sem grandes fintas, ou versos de pronuncias enroladas
Quem dera ser como Bocage


E conseguir com palavras simples, ou simples palavrões
Poemas para uns poucos, ou para as grandes multidões
De puros disparates ou até complexas paixões
Entreter quem queira, que os quisesse ler


Mas não tenho tal trato, e os poemas que vou fazendo
São aqueles de rimas mais que repetidas
Com palavras mais que muitas vezes ouvidas
Como são, “o meu triste sentimento…”
“Ai que não sei que faça com tanto sofrimento…”
E assim continuando com tamanho tormento
Estas são as voltas que dou em pensamento.


E de triste à tristeza e de frustrado à frustração
É apenas uma pataca ou se preferir um tostão
Corro a todas as possíveis, não pela primorosa poesia
Apenas pelo gosto daquela tão severamente triste união
Às vezes apenas um puro disparate, ou quem sabe a heresia…


É uma quase receita, junte um pouco mais de lamento
“Ai quem dera ser quem não sou, mas queria tanto ser…”
Sem como é claro que para tal, tivesse algo que fazer
Seguidamente junte uma pitada de fermento
Mas cuidado com as quantidades, especialmente no que toca ao desalento
Não podemos matar o publico logo ao primeiro verso,
Deixem-nos vir, ricos em contentamento
Para depois lhe mostrarmos a pouco e pouco o reverso
Agora aguarde que a massa cresça e junte outro condimento
Assim sucessivamente até completar a triste junção, até ficar pronto a servir
Para todos os alegres, ou simplesmente tristes que o queiram ouvir


No final a partilha do insucesso, tristeza ou, frustração
Deve ser feita em conjunto para que não sofra simplesmente na sua pobre solidão
Os desalentos podem ser no final compartilhados, chorados, ou até talvez amados
Mas fica assim a saber a receita para fazer bolos salgados
Pelas lágrimas, ou simplesmente tristes, em especial depois de serem lidos
Quem sofre mais no final são sempre os ouvidos…
Mas alegre-se que melhor “ouvinte” que o papel é nos dias hoje difícil de encontrar
Ou faltam quando chamamos, ou simplesmente não nos querem mesmo ligar…

domingo, outubro 07, 2007

Procurei por horas a fio em ruas sem fim
por algo diferente, simplesmente de mim
Nada encontrei senão mais raiva de ser assim
e de te tentar procurar por horas a fio, horas sem fim

Encontrei-me mais tarde, já desfeito...
pela mordaz, pungente e ruinosa, falta do ser
embrenhado em sórdidas mágoas,
Já pouco ou nada havia a fazer...

Mas continuava... vagueava por becos, e ruelas onde nada se conhecia
transtornado, confuso, atordido e mais tarde desorientado
Era eu um ser inolvidado antes, possivelmente antes de ser dia
Porque agora já nem eu me reconhecia

Mais tarde, horas sem fim mais tarde...

Olhava o meu rosto refletido na água
Essa tao impura, e à minha semelhança triste...
Água que naquele cada vez mais pobre rio existe

Olhava-a enquanto ela no seu silencio e com a sua calma
Me explicava de forma simples e quase maravilhada
que eu simplesmente perdera a alma...

dei-a ao sentimento, que com ela fugiu
Apresentei-a ao pensamento, que com ela se despiu
Mostrei-a ao amor que com ela dormiu
Desprezei-a, e dei-a a todos e todos esses...E ela partiu

No final apenas soube que a perdi
E que com ela um pouco de mim tambem esqueci
Algures num tempo que não senti
Algures longe daqui...

sábado, setembro 22, 2007

"Depois do adeus"

Após tanto tempo de ausência, tanto tempo longe deste blog, da quase desistência, ou porventura da desistência não assumida...Não pretendo voltar a ressuscitar os fantasmas, mortos e enterrados.
Simplesmente nos últimos tempos a solidão, a quietude, o distanciamento e a introspecção, têm me feito pensar, e com o pensamento volta sempre, a pouco e pouco a escrita e o desabafo com o computador mais do que com o papel, mas sempre com o mesmo intuito.

Só por isso "voltei", não com a vontade de escrever diariamente, ou sequer de actualizar o blog várias vezes...Apenas com o intuito de escrever esporadicamente, quando a mente e a vontade o desejarem.

E porque as desculpas já vão longas....

Divagações Nocturnas

Às vezes dou por mim perdido, olhando-te
como se não tivesse passado mais que ontem
e esperando, que do outro lado, na fotografia
alguém me espere, ainda após tanto tempo
À espera talvez de um singelo,
mas portentoso apelo,
algum chamamento,
N forte ilusão diria, de algum sentimento
Mas nada...Tudo passa em vão
e perco-me, diluo-me outra vez na ilusão
na doce miragem que observo, naquela bela ilustração
Perdido percorro os traços, as cores, as expressões
que me podem talvez alentar,
na incerteza...A divagar
Por essa foto quase tão velha
quanto o tempo, que por vezes espreito
nestas noites em que te olho
e em que me vejo desfeito.

A perfeição tão almejada nunca chegou, e a qualidade foi-se perdendo, mas não escrevo para outros, tento ilustrar muito o pouco que vou sentindo....

I.

Mais uma noite passada nesta taciturnidade
Mais uma noite levada pela insaciedade
Vencida por fim ao cansaço, físico e do pensamento
Deveras que não é senão efeito de outra coisa que falta de sentimento

Tristeza , desalento, murmúrio, pensamento...
E subitamente ouço, alguma alegoria no ar
Que soa ao som dos anjos, a rufar
Aos tambores celestiais a bradar
A alegria apresenta-se para mais uma visita,
uma sórdida, desconsolada, agoniante e arrogante
alegria esta que me acompanha nestas noites que passam...

Quem dera ao longe vê-la acenar,
Vê-la como dantes com contentamento a chegar
Esta apenas traz distúrbio ao espírito que se tenta sossegar
Barulho, para o sonho que se quer sonhar,
Nada como dantes, o sonho sonhado
Viver, vivendo-o acordado.

A grande ilusão que causará esta alegria....Já não existe, fugiu, nunca existiu...Nem existirá

II.

Enfadonha noite que ainda assim não sossega
Deixa-me fechar os olhos por instantes
E por um momento vem uma orquestra, rufar
oara que no mundo dos sonhos, possa então me embalar

Vislumbra-se por um momento a vitória então do cansaço, Nesta alegoria da fadiga...Já não sei que faço.

Se voe, se me prostre no chão,
Que o amor por vezes bem me mendiga
instantes que sejam de atenção,
Pensamento próximo, compaixão
intenção, intuição e malandrice, mas isso só por sugestão.

Entro num mundo a que não pertenço

III.

Numa intimidade imaginária,
que a fantasia cria tudo o que pode,
Pelo silencio se caminha, na estrada que aparece
Por um instante, a intenção esmorece
Lembram-se os que nos são queridos e já partiram
Os que amamos, mas não sabemos onde estão
É noite neste país da utopia, nesta irremediável ilusão
e o caminho humedece
ao ritmo das gotas de sal...

Aquelas que vão a pouco e pouco escorrendo
Da triste face do pensador, que contempla a vida e a morte nas palmas das suas mãos

IV.

Observa atentamente a humanidade
Os seus ritos,
os seus gritos
ora de alegria, ou de saudade
de enérgica fúria ou de maldade
de morte e sentimento
de vida e de novo alento

Observa-os com ar consternado
transparecendo no seu rosto
"a vida vive-se num momento
não existem dois sopros de alento
num dia é-se bebé, criança, jovem, adulto, velho.....
no seguinte pó deslocado pelo sulco do vento".

V.

Peço agora que me deixeis só
para me inebriar em mais pensamento,
em mais sensações...Talvez apenas em desalento
frustrações, irritações, tristezas, há assim momentos
Mas peço-vos que me deixeis só
para aprender outro caminho,
Mas no fundo para simplesmente ficar sozinho.