sábado, abril 24, 2010

tatuagem

Escrevo a tinta-da-china em papel
que não mais é senão, pele.
Escrevo para, não (te) esquecer
para me lembrares das angustias e do sofrer

escrevo em tom singelo, dourado
na pele que é decorada a tons de por do sol
quisesse eu ilustrar em ti o infinito,
a cada contorno, em cada passada
uma sobre a outra, a cada camada


"não te apoquentes, não te amargures"
digo-te no que tento que seja o meu timbre mais calmo
as marcas da memoria desaparecem mais depressa
que as que dolorosamente me vais deixando
ao invés de eu te as decalcar

e lá vez em quando me jogo às contas mal feitas
o tempo que passa, e me deixa
quanto tempo será, muito tempo?
existirá mesmo, muito tempo?

Acabei a tatuagem, tatuei no cérebro
"tempo não é mais do que aquilo de dele fazemos"
mas ainda assim volta a minha duvida,
quanto tempo é muito tempo?...

é tarde, e à memoria já pouco ocorre
queria algo sublime, com que te deleitar
mas as mãos fidedignamente obedecem
ao entorpecer da mente, que se apega cada vez mais ao cansaço

quinta-feira, abril 22, 2010

hoje nada me serena e já chorei um diluvio...
mas a tempestestade parece não ter fim
um turbilhão de pensamentos
que corre de cá para lá...
uma infelicidade extrema,
e o incomodo, de não saber estar.

quero rebentar como que um vulcão
expelir todo o mal que trago cá dentro...
mas talvez por percausão de não ficar vazio
vou enchendo para lá de cheio.

hoje estou fulo e furioso
estou magoado e deslavado.
Apetecia-me gritar com tudo e com todos
pedir justificações a quem, e quem não as tem
tou com o desejo irresistivel de virar tudo do avesso
por tudo o que vejo de patas p'ro ar...

Nesta noite parece que o mundo irá mudar
mas ainda assim eu continuarei de mim esquecido.
errantemente... continuarei igual
teimoso e insignificante na minha pequenhês

Amanhã um novo dia começará,
mas não para todos, tal como o hoje acabará.
Este meu pequeno mundo mingou encolheu,
e aperta-me para onde quer que vá
Sinto-me sufocar, sinto-me sem falta de ar

pensei que na solidão, no silencio
pudesse por momento que fosse, repousar
mas hoje... não há onde possa descansar
estou ferido, e ja meio moribundo
e sem dramatismos, gostaria de chegar a um fim
mas não à porto que me receba e continuo à deriva.

sexta-feira, abril 02, 2010

o ultimo raio de sol


Diz-me porque és tu assim, tão fugaz?
Como a paciencia de quem na espera já não se apraz.
Porque te evaporas nas vielas?
Porque te escondes atrás delas?

Eu não sei, e nem consigo explicar
O que hei-de em ti ainda assim contemplar
Eu não sei, e nem consigo explicar
como ainda te procuro, nos minutos em que eu mesmo me perco a pensar...

a tua doçura, melosa e gratificante
tem em si, algo sublime e empolgante
um deleite que me derrete...

fazes-me lembrar talvez os dias solarengos
de calma banhada a prazer, talvez a tua quietude
me recorde daquela que eu sempre desejei ter

mas ainda assim não obstante
escondeste no meio do cinzento
de um qualquer dia nublado
tornaste invisivel aos demais
...meu ultimo raio de sol...