domingo, outubro 28, 2007

...."Untitled"....

Procuro simplificar as palavras, para não mentir
Para não confundir mais o que pretendo dizer
Com o que não consigo disfarçar de sentir

Pretendo olhar-te outra vez, e entender
Onde está a traição do meu fundamento
Que me fez dizer
Que o mar que observava era amor,
Fonte de alento, alimento, e eu que já me sinto sedento….
Fitava tão imerso, tal calmante
Tão lindo, traiçoeiro, perigoso, surreal e relaxante
Da mesma forma eu via o amor,
Esse sentimento…Essa ferida de ardor

E a pessoa com quem falava era ninfa encantada na verdade
Donzela sem espinhos, que não me quis injectar, veneno tão letal
Esse afecto, forte completo a quem chamam amor…não é banal
É forte veemente, como o mar, em dia de tempestade
Daí a confusão…
A indecisão

Mas como disse não quero voltar a mentir
A verdade é só uma, e está despojada de protecções
Está só, livre de quaisquer contradições
Bastaram duas palavras para chamar outra vez o ser a sentir
Esse bobo triste que aparece sem terem de pedir
Pedindo afectos mil, ou sofrerá, por solidão
Por embaraço, nada de novo, e por paixão

Não o enterro em mim pois não consigo,
Não tenho porte, nem tais intenções…
Não o escondo, nem esconderei,
A ser eu tentarei…
Mesmo que assim fuja, de mim, serei
Bravo se preciso,
Ágil, lesto, conciso
Agitado, carismático
Cru, nu, despido do preconceito
Relaxante e gostoso a preceito
Saboroso, delicioso
Leal, poderoso,
Dominante e quem sabe feroz
Ou nada disto, nem tão pouco se tivermos a sós
Que tou rouco de gritar e os céus já não ouvem minha voz.

Quem dera ser Bocage, ou de forma mais informal A RECEITA

Quem dera ser Bocage


Quem dera conseguir escrever
Um poema que se visse, para toda a gente ler,
Sem truques, ou palavras complicadas
Sem grandes fintas, ou versos de pronuncias enroladas
Quem dera ser como Bocage


E conseguir com palavras simples, ou simples palavrões
Poemas para uns poucos, ou para as grandes multidões
De puros disparates ou até complexas paixões
Entreter quem queira, que os quisesse ler


Mas não tenho tal trato, e os poemas que vou fazendo
São aqueles de rimas mais que repetidas
Com palavras mais que muitas vezes ouvidas
Como são, “o meu triste sentimento…”
“Ai que não sei que faça com tanto sofrimento…”
E assim continuando com tamanho tormento
Estas são as voltas que dou em pensamento.


E de triste à tristeza e de frustrado à frustração
É apenas uma pataca ou se preferir um tostão
Corro a todas as possíveis, não pela primorosa poesia
Apenas pelo gosto daquela tão severamente triste união
Às vezes apenas um puro disparate, ou quem sabe a heresia…


É uma quase receita, junte um pouco mais de lamento
“Ai quem dera ser quem não sou, mas queria tanto ser…”
Sem como é claro que para tal, tivesse algo que fazer
Seguidamente junte uma pitada de fermento
Mas cuidado com as quantidades, especialmente no que toca ao desalento
Não podemos matar o publico logo ao primeiro verso,
Deixem-nos vir, ricos em contentamento
Para depois lhe mostrarmos a pouco e pouco o reverso
Agora aguarde que a massa cresça e junte outro condimento
Assim sucessivamente até completar a triste junção, até ficar pronto a servir
Para todos os alegres, ou simplesmente tristes que o queiram ouvir


No final a partilha do insucesso, tristeza ou, frustração
Deve ser feita em conjunto para que não sofra simplesmente na sua pobre solidão
Os desalentos podem ser no final compartilhados, chorados, ou até talvez amados
Mas fica assim a saber a receita para fazer bolos salgados
Pelas lágrimas, ou simplesmente tristes, em especial depois de serem lidos
Quem sofre mais no final são sempre os ouvidos…
Mas alegre-se que melhor “ouvinte” que o papel é nos dias hoje difícil de encontrar
Ou faltam quando chamamos, ou simplesmente não nos querem mesmo ligar…

domingo, outubro 07, 2007

Procurei por horas a fio em ruas sem fim
por algo diferente, simplesmente de mim
Nada encontrei senão mais raiva de ser assim
e de te tentar procurar por horas a fio, horas sem fim

Encontrei-me mais tarde, já desfeito...
pela mordaz, pungente e ruinosa, falta do ser
embrenhado em sórdidas mágoas,
Já pouco ou nada havia a fazer...

Mas continuava... vagueava por becos, e ruelas onde nada se conhecia
transtornado, confuso, atordido e mais tarde desorientado
Era eu um ser inolvidado antes, possivelmente antes de ser dia
Porque agora já nem eu me reconhecia

Mais tarde, horas sem fim mais tarde...

Olhava o meu rosto refletido na água
Essa tao impura, e à minha semelhança triste...
Água que naquele cada vez mais pobre rio existe

Olhava-a enquanto ela no seu silencio e com a sua calma
Me explicava de forma simples e quase maravilhada
que eu simplesmente perdera a alma...

dei-a ao sentimento, que com ela fugiu
Apresentei-a ao pensamento, que com ela se despiu
Mostrei-a ao amor que com ela dormiu
Desprezei-a, e dei-a a todos e todos esses...E ela partiu

No final apenas soube que a perdi
E que com ela um pouco de mim tambem esqueci
Algures num tempo que não senti
Algures longe daqui...