terça-feira, março 31, 2009

Esquisito

Ouvi dizer:
Que os serões de inesgotável animação acabaram
Terminaram as histórias, das mais mirabolantes, às mais enviusadas
Como se fontes fossem, subitamente secaram
Todas elas infinitas no seu enredo e de perfume incomparáveis
Interromperam-se as esperanças incluindo as mais infundadas

E penso:
Para comigo, será que somos mesmo imortais,
Vivendo outras vidas para além desta?
Por outro lado, será que somos sequer racionais?
Quando questionamos as formas e usos mais banais
E em seguida acreditamos em histórias como esta…

Vou dizendo:
Para comigo, não questiones na óbvia esperança
De alcançar a toda a questão uma resposta, como fiança
Não perguntes para que outros te sigam as pisadas
Fá-lo, mas porque te questionas e duvidas das lógicas infundadas

E repenso...
Eu não vivo sob a intempérie de ódios profundos
Espero por outras chuvas, aquelas que me diluem
E que sem notar me elevam e transportam a outros mundos
E vou na corrente, com as gotas que nela fluem

Solidificando:
Mas não desejo mal de mim a outros, aos demais
Vou-me apenas servindo como posso, do meio inconstante
Sem grandes promessas e planos do hei-de fazer daqui por diante
Vejo o meu modo, como se de uma taça de vinho se tratasse

Encho e vazo:
So som da maré que me vai chamando
Encho e vazo, consoante a secura que a boca aflige
Encho e vazo, sem nunca estar cheio ou vazio, vou-me moldando
vezes sem conta, a imaginação trucidada que não se corrige

E no gesto que faço vezes sem conta, em gestos quase contínuos
Vou destilando a cada um deles as sérias e patéticas preocupações,
E vou lavando lentamente, vou vaporizando e acalmando as tempestuosas emoções
Vou deixando na taça o meu antagonismo, e o meu pessimismo
Vou diluindo e desbotando o meu ser, o ego que é meu
Vou escondendo nos entre folhos o meu lado mais obscuro
esse que é tão mau e difícil, de ideias fixas, é o que na consciência seguro
E no por fim pergunto, já longe do ser, quem sou eu?
Se a taça que se enche e vaza ou o vinho envelhecido pelo derrotismo.

segunda-feira, março 23, 2009

Absurdo

Sinto nas palavras a falta de contexto
O desnexo e a sua falta de sentido
E por vezes nem consigo conter
Nem detenho o acto irreflectido
De em voz alta as dizer.

Sinto na vida que tenho, a falta de tempo,
O absurdo que aos poucos transforma o meu ordinário,
O sentir repetidas vezes, quase desnecessário.

Sinto no ar que tento respirar,
A sua quase total ausência
Que me vai estrangulando na sua inexistência
Que me vem a cada novo inspirar sentenciar

E também sinto no espaço que ocupo
O aumentar claustrofóbico da minha vontade
O espaço já de si diminuto
Restringe ainda mais a sua pouca disponibilidade

Sinto no que vejo, observo e admiro
Um não sei quê de mentira ou falsidade
Um afrontamento e por vezes a falta de verdade
Não sei que absurdo é este, mas ao que disse nada retiro

Sinto em meu redor mais do que de mim
Sinto a acomodação a outros costumes
Um entender da eternidade que não cabe em mim
Uma satisfação por poder testemunhar dias assim
Imutáveis no conteúdo, vazios de jovialidade
Mergulhados em absurdo e escassa autenticidade

E por fim sinto-me agora frio quase a congelar
Sinto-me triste, abatido quase ao ponto de chorar
Sinto-me aqui e ali, algures a pairar
Rodeado de gente
Satisfeita, orgulhosa e contente
E eu insatisfeito reúno a amargura e a solidão
Para o fúnebre enterro do próprio, que não vê noutros a razão

sexta-feira, março 20, 2009

Silencios

o silencio que a todos ofereço
não é por simples motivo , sequer é inibição
é talvez porque não tendo que dizer, eu já nada confesso
e as palavras perdem por vezes o seu sentido, a sua razão
por vezes as palavras por mim ditas, perdem o seu apreço

E como tal desabituei o falar, o conversar
o partilhar de historias, e até de as contar
esqueci como dizer o que sinto
e por vezes na fuga de tal, até minto

e no sepulcro em que me encontro habitualmente
vejo o mundo lá fora... comigo dele ausente
e assim observo todos os movimentos, de toda a gente

e se por ventura me demorar
se me perder num qualquer lugar
é simplesmente porque terei encontrado alguem
sem palavras ditas à mistura,porque porem
falarei horas a fio, simplesmente pelo olhar

quinta-feira, março 19, 2009

vazio

farto o sentido do viver
o contemplar do envelhecer
farto o mundo e tudo o que nele existe
tudo odeio até as palavras que proferiste

e calado oiço o ruido em volta
escuto os risos e gargalhadas
vejo as conquistas e as vidas derrotadas
e em todas elas vejo a minha revolta

tomo em conta a opção do suicidio
a morte da mente o fim do delirio
tento convencer-me, a morte nunca foi solução

é um fim e também esse não tem qualquer razão
Sinto-me mais uma vez perdido ao acaso e sem rumo
e é tal o vazio que é impossivel seu inumo

Piano...

Hoje ouvi um piano e tocou-me de forma tão eloquente
Disse-me mais do que uma pessoa, diss-me sobre o que não fala a gente
Procurava ele de forma incessante as notas soltas de uma melodia
Procurou-as com convicção noite e dia

O sossego e tranquilidade seguiram-se por um energético pulsar
das suas teclas tão obstinadamente marteladas
Ao leve toque ou ao compulsivo bater, afinadas
quase impossível de seguir o ritmo conturbado,
e seguia-se o retorno ao tom mais sossegado

elevando-se em seguida à altura que distancia o corpo da respectiva alma
e a transportar-me a sentimentos que transportam sempre algo mais que simples calma
e em todo o caos orquestral do momento, no meio dos violinos, violoncelos
entre trompetes, trombones, fagotes, flautas, oboés e clarinetes
marca a sua presença neste quase jogo de marionetes.

agora oiçam-no taciturno...
veloz, melódico e ofuscante
pára... e regressa marcante
assinala toda a música
marca o ritmo
eleva a insustentável leveza idiossincrásica
desaba e renasce
alegra e entristece
morre, ressurge e regressa
a cada bater, a cada teclar
do mais forte ao mais suave
do mais audível ao mais ensurdecedor
esbate a tristeza, milagre quase da natureza
mata a doença afasta qualquer dor,
a cada bater, a cada teclar…
cessa a música e a eloquencia
finda o som, só não a minha demencia
enlouqueci, sem notar.

terça-feira, março 17, 2009

obscuridades

esgueira-se aos poucos a vida
e com ela o riso e a vontade
toda a felicidade até a não tida
extingue-se a mentira e a verdade
sume-se a fome e a fartura
o sonho a fantasia e o devaneio
o amor sequer a tortura
o ser proprio até o alheio
no final apenas o vazio
contido em linhas de um ébrio
ou talvez alucinado sombrio

morte tras-me na alcova o aconchego
que à tanto a que não chego
tira-me o tapete e cairei contigo
mata-me somente que suporta-la não consigo

segunda-feira, março 02, 2009

Solitude!

esqueço o tempo e a vontade de lembrar
esqueço minutos e esqueço horas
esqueço que ha um mundo la fora

e à medida que o corpo se vai dissipando
em todo o espaço envolvente, em todo o redor
quase me esqueço até que existo tão só

e aqui sozinho, que ninguem sabe deste lugar
partilho segredos e outras tantas vontades
mostro-me quem sou, para que não o esqueça
e por fim cuido toda e qualquer ideia que floresça neste jardim

e penso no facto de que a solidão por si é um mundo
que me envolve e me rodeia, que me cerca como uma teia
e neste pesado silencio observo-a, que so ja se ouve o meu pensar
de tanto a olhar, finalmente posso afirmar que o isolamento é abismo deveras profundo