quinta-feira, abril 23, 2009

Sonho, com o rio e do mar uma nascente
Com a arvore, dela o fruto e a semente
Sonho distante, sonho o mundo
E o seu ensejo, o mais profundo

Talvez desejo ardente
Possuir-te devagar, calmamente
Depois excitante, fervente
O amor... acto amado que é da gente

E sem falas, ou palavreado
Vou-te tocando suavemente
Vou levitando, teu corpo alado

Enrosco-me em ti, estando tu ausente
Só o percebo já depois de acordado
No meio do rebuliço e do emaranhado

segunda-feira, abril 06, 2009

Me monster

Cega, por ser obcecada, é para além de mim
A raiva, que no seu dito esplendor, me venda
E surda é também, cá dentro de mim
A suposta razão que não passa de mito ou lenda

Já para tratar a insipidez e a indolência
Evoco a imaginação que me degusta,
Que me aprisiona em toda a sua demência
Faço-me tamanho monstro que até a mim me assusta

E se pensais que posso ter alguma sensibilidade
Não vos enganeis, nem inventeis meia verdade
As mãos que possuo, servem apenas para vos avisar
Deste dito demónio que me é impossível parar

De qualquer forma, são insensíveis a tudo o que seja demais
E também sem contar, com o instrumento de escrita, e pouco mais
Tocam apenas o vazio, ou em dias de sorte o mais fino ar
Que de resto, nada mais pode tocar, diga-se até conspurcar

Já não sinto absolutamente nada, nem alegria nem dor
Nem arrependimento, nem frio e nem calor
E no que seria, suposto de alguma forma sentir…
Eu sou céptico e não acredito em quem me possa mentir
Por isso calai-vos, raiva, razão, calai-vos todos, até eu e o meu ego
Ignoro-vos, fecho os olhos, viro a cara, fico surdo, fico por fim cego

É hora da tranquilidade, de fechar tudo, é hora de dormir
Ninguém saberá quando acordarei, talvez tenha passado a hora de partir
Contar-vos-ei para terminar um ou dois segredos
Esta noite, vou sepultar a minha loucura, vou enterrar os meus medos
Para que nunca mais os encontre, para que não mais os reconheça
Vou ser meu herói, independentemente do que daqui por diante aconteça.