sábado, abril 24, 2010

tatuagem

Escrevo a tinta-da-china em papel
que não mais é senão, pele.
Escrevo para, não (te) esquecer
para me lembrares das angustias e do sofrer

escrevo em tom singelo, dourado
na pele que é decorada a tons de por do sol
quisesse eu ilustrar em ti o infinito,
a cada contorno, em cada passada
uma sobre a outra, a cada camada


"não te apoquentes, não te amargures"
digo-te no que tento que seja o meu timbre mais calmo
as marcas da memoria desaparecem mais depressa
que as que dolorosamente me vais deixando
ao invés de eu te as decalcar

e lá vez em quando me jogo às contas mal feitas
o tempo que passa, e me deixa
quanto tempo será, muito tempo?
existirá mesmo, muito tempo?

Acabei a tatuagem, tatuei no cérebro
"tempo não é mais do que aquilo de dele fazemos"
mas ainda assim volta a minha duvida,
quanto tempo é muito tempo?...

é tarde, e à memoria já pouco ocorre
queria algo sublime, com que te deleitar
mas as mãos fidedignamente obedecem
ao entorpecer da mente, que se apega cada vez mais ao cansaço

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