sábado, julho 11, 2009

Pescador

I

Marinheiro que tanto mistério abrigas, observa o mar,
Na sua constante luta, entre duvidas e certezas num constante digladiar
E tu vais também oscilando entre a mentira e a verdade
De uma moeda, de uma mesma realidade
Varias entre um gélido calor infernal, que tudo liquefaz
E um frio, que de tão quente tudo gela tudo mordaz


II

Que oscilação, pensas, tão puramente pungente,
Tão louca e sem sentido, tão inconsequente

E voltas ao divagar, vacilas entre a mais fervorosa alegria
E um choro triste, penoso, e por vezes comovente,
Uma felicidade que na verdade é ausente
Quando se condescende ao suplicia da dor.


III

Que intempérie tempestuosa… Hoje o mar encontra-se revoltado,
Será apenas contigo pescador que se encontra zangado?
Sopra um vento forte que trespassa o espectro morto, feito de matéria inanimada
E tu balanças-te à sorte numa insegura corda bamba, sobre o cordel feito de nada
E de outra perspectiva, és ironicamente, és sarcasticamente controlado, pelos próprios
Fios, atilhos, baraços, linhas, guitas, redes, malhas, chama-lhe o quiseres
Manipulam-te como a um fantoche, uma marioneta
E ainda assim julgas-te capaz de escrever, escrita de poeta


IV

Embalas de novo numa frenética vontade, num infinito querer
E regressas em seguida ao mais singelo, não saber o que pretender
E como numa onda, leva-te o mar a um sábio e profundo saber
E retorna-te em seguida à ignorância ou frustração, à insipiência, talvez ao ser


V

E tu bem sabes, que no momento em que o silencio voltar
Em que a tua constante duvida que se confunde com a do mar
Quando a mesma for resolvida, dissipada, respondida
Ou terás chegado a bom porto, ou parte integrante dele serás
Sim, do mar, desse que está tão ruidoso e zangado, tão irado
Mas nessa altura, tal como tu, estará silencioso e sossegado
Envolto em mistério, calmo, tranquilo e calado.

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