terça-feira, junho 28, 2005

A Água

Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão

Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho

Meus senhores aqui está a água
que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber às fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.

de Manuel Maria du Bocage

Setúbalense como não houve outro.

4 comentários:

Anónimo disse...

Bem, não conhecia, mas gostei!
Achei-o assim... tão natural como a sua sede :P

Ruben Neri disse...

esse comentário está BRUTAL :^)

Anónimo disse...

Parabens ao apreciar Bocage quer dizer que ja te estas a ambientar a setubal :P
Ainda por cima fica a saber (caso não saibas o que eu duvido) este ano é o ano do bocage em setubal

Ruben Neri disse...

Fredy eu já conhecia este poema muito antes de vir para setúbal, tenho 3 livros de Bocage em casa desde que me lembro e vens-me tu dizer que estou a habituar a setubal? Eu quase conheci o Bocage, mesmo antes de ele ter nascido pah!

E como vai o estudo? o meu vai pessimo lol...